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ORIENTAÇÕES PARA ODIAR O PECADO

Por Richard Baxter


Tradução: Joelson Galvão Pinheiro

I. Orientação
Se esforce tanto para conhecer a Deus quanto para ser afetado pelos Seus atributos. Viva
sempre diante Dele. Ninguém pode conhecer o pecado perfeitamente porque ninguém pode
conhecer Deus perfeitamente. Você não pode conhecer o pecado mais do que você conhece a
Deus, contra quem o seu pecado é cometido; a malignidade formal do pecado é relativa, pois é
contra a vontade e os atributos de Deus. O homem piedoso tem algum conhecimento da malig-
nidade do pecado porque ele tem algum conhecimento do Deus que é ofendido pelo mesmo. O
ímpio não tem um conhecimento prático e prevalente da malignidade do pecado porque eles
não têm um conhecimento de Deus. Aqueles que temem a Deus temerão o pecado; aqueles que
em seus corações são irreverentes e impertinentes para com Deus, serão, em seus corações e em
suas vidas, a mesma coisa para com o pecado; o ateísta, que acha que não existe Deus, tam-
bém acha que não há pecado contra Ele. Nada no mundo inteiro irá nos mostrar de maneira tão
simples e poderosa a maldade do pecado, do que o conhecimento da grandeza, bondade, sa-
bedoria, santidade, autoridade, justiça, verdade, e etc., de Deus. Portanto, o senso da Sua pre-
sença irá reviver em nós o senso da malignidade do pecado.

II. Orientação
Considere bem o ofício de Cristo, Seu sangue derramado e Sua vida santa. Seu ofício é ex-
piar o pecado e destruí-lo. Seu sangue foi derramado por ele. Sua vida o condenou. Ame a Cristo
e você odiará o que causou Sua morte. Ame-O e você irá amar ser feito à imagem Dele, e odiará
aquilo que é tão contrário a Ele.

III. Orientação
Pense bem o quão santo é a obra e o ofício do Espírito Santo, e quão grande misericórdia is-
to é para nós. Irá o próprio Deus, a luz celestial, descer a um coração pecaminoso para iluminá-lo
e purificá-lo? E ainda devo manter minha escuridão e corrupção, em oposição a essa maravilho-
sa misericórdia? Embora nem todo pecado contra o Espírito Santo seja uma blasfêmia imperdoá-
vel, tudo é ainda mais agravado por meio disso.

IV. Orientação
Considere e conheça o maravilhoso amor e a misericórdia de Deus, e pense no que ele tem
feito por você e você odiará o pecado, e terá vergonha dele. É um agravamento do pecado até
mesmo para a razão comum e a ingenuidade, que devemos ofender um Deus de infinita bonda-
de que encheu nossas vidas de misericórdia. Você será afligido se você tem injustiçado um extra-
ordinário amigo; seu amor e sua bondade virão aos seus pensamentos e você sentirá raiva de sua
própria maldade. De um lado veja a grande lista das misericórdias de Deus pra você, para sua
alma e seu corpo. Do outro, observe satanás, escondendo o amor de Deus de você, e tentando
você debaixo de uma pretensa humildade de negar Sua grande e especial misericórdia; procu-
rando destruir seu arrependimento e humilhação escondendo também o agravamento do seu
pecado.

V. Orientação
Pense no propósito da existência da alma humana. Para que ela fora criada? Para amar,
obedecer, e glorificar nosso Criador; e você verá o que é o pecado, pois ele perverte e anula
esse propósito. Quão excelentemente grande e santa é a obra para o qual fomos criados e cha-
mados para fazer! E deveríamos desonrar o templo de Deus? E servir ao diabo em sua imundície e
tolice, quando deveríamos receber, servir, e glorificar nosso Criador?

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VI. Orientação
Pense bem quão puros e doces deleites uma alma santa pode desfrutar de Deus em Sua
santa adoração; e então você verá o que o pecado é, pois ele rouba-nos destes deleites e prefe-
re uma luxúria carnal ao invés deles. Oh com quão grande felicidade poderíamos realizar cada
dever, quão grandes frutos poderíamos produzir servindo nosso Senhor, e que deleites encontrarí-
amos em Seu amor e aceitação, e como pensaríamos mais na bem-aventurança eterna, se não
fosse o pecado; o qual afasta as almas dos portões dos céus, e as faz cair, como um suíno, no seu
amado lamaçal.

VII. Orientação
Considere a vida que você deverá viver para sempre, se você for para o céu; e a vida que
os santos vivem lá agora; e então não pense que o pecado, que é tão contrário a isso, não seja
uma coisa tão vil e odiosa. Ou você viverá no céu, ou não. Se não, você não é um daqueles para
quem eu falo. Se você for, você sabe que lá não há prática de pecado; não há mente mundana,
orgulho, paixões, luxúria e prazeres carnais lá. Oh se você pudesse ver e ouvir apenas uma hora,
como aqueles abençoados espíritos estão elevadamente amando e magnificando o glorioso
Deus em pureza e em santidade, e quão longe eles estão do pecado, isso faria você repugnar o
pecado e ver os pecadores num estado de extrema decadência como homens nus nadando em
seus excrementos. Especialmente, pensar que vocês têm esperança de viver para sempre com
aqueles santos espíritos; e, portanto o pecado será desgostoso para você.

VIII. Orientação
Olhe para o estado e tormento dos condenados, e pense bem na diferença entre anjos e
demônios, e aí saberá o que é o pecado. Anjos são puros; demônios são sujos; santidade e peca-
do são extremos. Pecado habita no inferno, e santidade no céu. Lembre-se que toda tentação
vem do diabo, para fazer você ser como ele; e toda santa disposição vem de Cristo, para fazer
você como Ele. Lembre-se que quando você peca, você está aprendendo e imitando o diabo, e
está até agora sendo como ele (João 8:44). E o fim de tudo isso é que você sinta também os so-
frimentos dele. Se o inferno de fogo não é bom, então o pecado não é também.

IX. Orientação
Sempre veja o pecado como alguém que está pronto a morrer e considere como todo ho-
mem o julga no final. O que os homens no céu dizem a respeito do pecado? O que os homens no
inferno dizem a respeito do pecado? E o que os homens à beira da morte dizem a respeito do
pecado? E o que as almas convertidas e as consciências despertadas dizem? O pecado traz de-
leite e é algo que eles não temem como é agora? Eles o aplaudem? Irão alguns deles falar bem
do pecado? Porém, todo mundo fala mal do pecado em geral agora, mesmo quando eles a-
mam e cometem diversos atos; Você irá pecar quando estiver à beira da morte?

X. Orientação
Sempre veja o pecado e o julgamento juntos. Lembre-se que você terá que responder por
isso diante de Deus, dos anjos, e de todo o mundo; e você o conhecerá melhor.

XI. Orientação
Olhe para a doença, pobreza, vergonha, desespero, podridão e morte na sepultura; e isso
vai te ajudar um pouco a entender o que é o pecado. Estas são coisas que estão diante de ti e
em seus sentimentos; você não precisa de fé para entendê-las. E por tais efeitos você poderá en-
tender um pouco da sua causa.

XII. Orientação
Olhe para algumas pessoas santas e eminentes sobre a terra e para o louco, profano e ma-
ligno mundo. E a diferença vai te dizer em parte o que é o pecado. Não há afabilidade numa
pessoa santa e irrepreensível, que vive em amor para com Deus e para com as pessoas, e na ale-
gre esperança da vida eterna? Não é um abominável beberrão, promíscuo, blasfemador, mali-
cioso, perseguidor, uma criatura muito repugnante e deformada? Não é uma visão muito miserá-
vel o estado ímpio, louco, confuso e ignorante deste mundo? Não é nisso tudo em que o pecado
consiste?

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Embora a principal parte da cura seja fazer com que a vontade odeie o pecado, e isso é
feito descobrindo sua malignidade; eu ainda adicionarei mais algumas orientações para a parte
prática, supondo que o que já foi dito tenha causado efeito.

I. Orientação
Quando você descobrir a sua enfermidade e perigo, se entregue a Cristo como o Salvador
e médico de almas, e para o Espírito Santo como seu Santificador, lembrando que ele é suficiente
e disposto a fazer o trabalho que Ele mesmo prometeu fazer. Não são vocês que devem salvar e
santificar a vocês mesmos (a não ser que vocês façam isso através de Cristo). Mas aquele que
assumiu fazê-lo, o faz para a sua glória.

II. Orientação
Você deve estar preparado a ser obediente em aplicar os remédios que Cristo prescreveu a
você; e observando as Suas orientações para que haja cura. Não seja tímido ou fraco dizendo
que é muito amargo e muito dolorido; mas confie em Seu amor e no Seu cuidado; pegue aquilo
que Ele te prescreveu ou te deu e não adicione mais nada. Não diga: “É muito penoso, e eu não
consigo”. Porque o que Ele te ordena é seguro, proveitoso, e necessário; e se você não conse-
gue, tente então carregar sobre você sua enfermidade, morte e o fogo do inferno! São a humi-
lhação, confissão, restituição, mortificação e a santa diligência piores que o inferno?

III. Orientação
Veja que você não tome parte com o pecado, nem dispute ou lute contra seu Médico, ou
com qualquer coisa que lhe faça bem. Justificar o pecado, ir em direção a ele e subestimá-lo,
lutar contra o Espírito e a consciência, ir contra os ministros e amigos piedosos, odiando a discipli-
na; estes não são os meios pelos quais você será curado e santificado.

IV. Orientação
Veja aquela malignidade em cada um dos seus pecados particulares, que você pode ver e
dizer que é generalizada. É um grotesco engano de vocês mesmo, se você vai falar muito do mal
do pecado e não ver nenhuma malignidade em seu orgulho, em seu mundanismo, paixões e per-
versidades, em sua malícia e severidade, em suas mentiras, maledicências, escândalos, ou pe-
cando contra a consciência por comodidade e segurança mundana. Que contradição é um
homem orar e agravar seu pecado, e quando ele é reprovado por isso, tentar se esquivar ou justi-
ficar-se. É como se ele fosse falar contra a traição e contra os inimigos do rei, mas porque os trai-
dores são os seus amigos e parentes, irá proteger ou escondê-los e tomar parte com eles.

V. Orientação
Mantenha-se o mais longe que puder das tentações que alimentam e fortalecem o pecado
que você dominaria. Ponha um cerco em seus pecados e os deixe morrer de fome afastando a
comida e o combustível que o mantém vivo.

VI. Orientação
Viva no exercício das graças e deveres que são contrários ao pecado que você está mais
em perigo. Pois a graça e o dever são contrários ao pecado, isso o mata e nos cura, como o fo-
go nos cura do frio ou como a saúde nos cura da doença.

VII. Orientação
Não seja enfraquecido ouvindo a incredulidade e a desconfiança, e não jogue fora os con-
fortos de Deus, pois eles são sua força e podem te encorajar. Não é assustador, deprimente, nem
desesperadamente desencorajador, estar apto a resistir ao pecado; mas o senso do amor de
Deus e o senso de gratidão da graça recebida é um grande encorajamento (com temor cautelo-
so).

VIII. Orientação
Sempre suspeite do amor carnal próprio, fique atento a isso. Pois essa é a fortaleza onde o
pecado se esconde, e é também o seu patrono; sempre pronto para te arrastar para o pecado e

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para justificá-lo. Nós somos sempre muito propensos a sermos parciais em nosso próprio caso; co-
mo no caso de Judá com Tamar e Davi quando Natã o reprovou em sua parábola; isso mostra
nossas próprias paixões, nosso próprio orgulho, nossa própria censura, nossa própria maledicência,
nossas relações prejudiciais, nossa negligência nos deveres; estas coisas para nós parecem pe-
quenas, desculpáveis, senão justificáveis. Considerando que poderíamos ver facilmente a culpa
disso tudo nos outros, especialmente em um inimigo, deveríamos estar ainda mais familiarizado
conosco e deveríamos amar mais a nós mesmos e, portanto odiando mais ainda nossos próprios
pecados.

IX. Orientação
Considere seu primeiro e principal trabalho matar o pecado em sua raiz; limpar o coração,
que é a fonte; pois é do coração que vem todo o mal em nossa vida. Saiba quais são as principais
raízes; e use o seu maior cuidado e diligência para mortificá-las, especialmente as seguintes:
1) Ignorância.
2) Incredulidade.
3) Inconsideração.
4) Egoísmo e orgulho.
5) Carnalidade, em agradar um apetite, luxúria e fantasia selvagens.
6) Insensibilidade, dureza de coração e sonolência no pecado.

X. Orientação
Conte o mundo todo e todos os seus prazeres; honras e riquezas não são melhores do que
aparentam ser; assim satanás não vai conseguir encontrar iscas para te pegar. Como Paulo, con-
sidere tudo como esterco (Fp. 3:8) e nenhum homem irá pecar e vender sua alma, pois ele conta
estas coisas como esterco.

XI. Orientação
Mantenha-se em conversas celestiais, e então sua alma estará sempre na luz, assim como
aos olhos de Deus; e ocupe-se com aqueles afazeres e deleites que o livram do prazer com as
iscas do pecado.

XII. Orientação
Que seu trabalho diário seja ser um cristão vigilante; embora haja distração e um medo de-
sencorajador, nutra a perseverança.

XIII. Orientação
Preste atenção no começo do pecado e suas primeiras abordagens. Oh quão grande dife-
rença faz um pouco desse fogo aceso! E se você cair, levante rápido através de um profundo
arrependimento, não importando o quanto isso pode te custar.

XIV. Orientação
Faça do seu único labor e regra diligente o entender a Palavra de Deus.

XV. Orientação
Em casos de dúvidas, não se aparte facilmente do julgamento unânime da maioria dos sá-
bios e piedosos de todas as épocas.

XVI. Orientação
Não seja precipitado nem aja por emoções, mas proceda deliberadamente e prove bem
todas as coisas antes de se firmar nelas.

XVII. Orientação
Esteja familiarizado com a sua temperatura corporal e em quê o pecado é mais inclinado a
você, e também em que situação o pecado te deixa mais vulnerável, e nisso você deve ser mais
rigoroso.

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XVIII. Orientação
Mantenha sua vida em ordem santa, tal como Deus ordenou que você vivesse. Pois não há
preservação para os retardatários que não se mantém no caminho, que abandonaram a ordem
e o mandamento de Deus. E esta ordem está principalmente nestes pontos:
1) Que você mantenha união com a universal igreja. Não esteja separado do corpo de Cris-
to sobre qualquer pretensão que seja. Esteja na igreja como um regenerado, mantendo a comu-
nhão espiritual em fé, amor e santidade; como um congregado, mantendo a comunhão externa,
na profissão de fé e na adoração.
2) Se vocês não são mestres, vivam sob seus fiéis pastores como obedientes discípulos de
Cristo.
3) Que os mais piedosos, se possível, sejam seus amigos íntimos.
4) Seja esforçado em algum chamado externo.

XIX. Orientação
Coloque todas as providências de Deus, quer a prosperidade ou adversidade, contra seus
pecados. Se ele te der saúde e prosperidade, lembre-se que por meio disso Ele requer sua obedi-
ência e tem um chamado especial para você. Se Ele te afligir, lembre-se que pode ser algum pe-
cado pelo qual Ele está ofendido; portanto, agarre isso como Seu remédio e veja que você não
obstrua essa obra, mas seja diligente, pois isso pode purgar seu pecado.

XX. Orientação
Espere pacientemente em Cristo até que ele tenha realizado a cura, que não acabará até
que essa árdua vida chegue ao fim. Persevere na assistência do Seu Espírito e dos Seus meios; pois
Ele virá no tempo certo e não tardará. “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor;
como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós com a chuva serôdia que rega a terra”
(Os. 6:3). Ainda que você diga: “Não há cura para nós” (Jr. 14:19) “Eu curarei sua infidelidade, eu
de mim de mesmo os amarei” (Os. 14:4). “Mas para vós outros que temeis o meu nome, nascerá o
sol da justiça, trazendo curas nas suas asas” (Ml. 4:2) “e bem-aventurado todos os que nele espe-
ram” (Is. 30:18).

Deste modo, eu dei algumas orientações que podem ser úteis para o ódio ao pecado, hu-
milhação e libertação dele.

Fonte: http://www.puritansermons.com/baxter/baxter16.htm

Voltemos ao Evangelho
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