Será que cometi o pecado imperdoável?

Resumo

No capítulo 7, “A agonia do coração e da mente”, John Bunyan retrata os pensamentos tumultuosos em seu coração, que “à semelhança de cães furiosos do inferno, urravam e bramavam e faziam um horrível barulho dentro de mim”(90). Ele pensava ter pecado pior que o de Pedro, pois este negara a Jesus, mas ele o vendera (83) e “agora estava sempre envergonhado devido à possibilidade de ser tão vil quanto Judas” (85). Ele chegou a tal ponto que “as mais livres, completas e graciosas palavras do evangelho [lhe] eram os maiores tormentos”, pois ele se afastou de Cristo e o vendeu.

No capítulo 8, “O triunfo da graça”, o autor retrata seus temores de que seu pecado  fosse imperdoável e que, portanto, não tivesse direito de orar, de se arrepender, etc.; ou que, mesmo orando e se arrependendo, não conseguisse proveito algum (99). Ele retrata desta forma: “A questão da suficiência da graça e da desistência de Esaú do seu direito de primogenitura era como uma balança de dois pratos em minha mente” (105). Contudo, enquanto meditava nos textos que lhe atormentavam, concluiu que não eram aplicáveis a sua situação; e a seguinte passagem me veio à mente: “A misericórdia triunfa sobre o juízo” (Tg 2.13). Agora, ele dizia confortado:

“Perante meus olhos, nada havia além de Cristo. Agora eu olhava não somente para este e os outros benefícios de Cristo, tais como seu sangue, morte ou ressurreição, separadamente, mas considerava-o como o Cristo completo, como o único em quem tudo isso e as demais coisas, suas virtudes, relações, ofícios e operações, encontravam-se.” (114)

(Capítulo 9 vai receber uma postagem especial mais tarde)

O que podemos aprender: Será que cometi o pecado imperdoável?

A angústia de Bunyan era seu medo de que havia cometido o pecado imperdoável (Mt 12:31), o pecado para morte (1 Jo 5.16), que era impossível que ele fosse reconduzido ao arrependimento (Hb 6:6), que havia pecado deliberadamente (Hb 10.26), ou que ele fosse semelhante a Esaú, o qual “não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado” (Hb 12:16-17).

Você teme se encontrar na mesma situação? Que pecou o pecado imperdoável? As reflexões de Bunyan podem ajudá-lo.

Pecado Imperdoável (Mt 12:24-37)

A dúvida dizia respeito à possibilidade de pessoas que tivessem cometido o pecado imperdoável receberem o menor conforto espiritual de Deus, por meio de Cristo. Depois de muito considerar o caso, descobri que a resposta era “não”, elas não poderiam; e pelas seguintes razões: primeiramente, aqueles que cometeram o pecado imperdoável não podem ter parte no sangue de Cristo; e, estando excluídos desta participação, eles não possuem a mínima esperança nem o conforto espiritual, pois, no caso deles, “já não resta sacrifício pelos pecados” (Hb 10.26). Em segundo lugar, eles não possuem o conforto de Deus porque lhes é negada a participação na promessa da vida eterna: “Não lhe será isso perdoado, nem neste mundo, nem no porvir” (Mt 12.32). Em terceiro, o Filho de Deus os exclui também da participação em sua abençoada intercessão, envergonhando-se deles para sempre, tanto diante de seu Pai como dos santos anjos nos céus (Mc 8.38).

Veja mais sobre o pecado imperdoável:

Impossível ser reconduzido ao arrependimento (Hb 6:4-9)

Primeiro, verifiquei Hebreus 6 e tremi ante o medo de que essa passagem me deixasse estarrecido. Mas, depois de refletir sobre ela, descobri que o termo “caíram” significava apostatar — ou seja, conforme entendi, um abandono e uma absoluta negação do evangelho, bem como da remissão dos pecados por Jesus Cristo, visto que o autor começa sua argumentação a partir desses ensinos (Hb 6.4-6). Segundo, descobri que a apostasia acontece abertamente, à vista do mundo, e expõe Cristo à ignomínia. Terceiro, descobri que as pessoas às quais o texto se refere haviam sido deixadas por Deus em permanente cegueira, dureza e impenitência: “É impossível outra vez renová-los para arrependimento”.

A partir de todas essas considerações, concluí, para eterno louvor de Deus, que meu pecado não era o pecado referido nesse texto. Primeiro, confessei que havia caído, mas não apostatado, isto é, da profissão de fé em Jesus para a vida eterna. Segundo, confessei que, devido ao meu pecado, havia exposto Jesus Cristo à vergonha, mas não à ignomínia pública; não o neguei diante dos homens, nem o tratei como se ele não tivesse valor ou importância perante o mundo. Terceiro, não achei que Deus me havia lançado fora ou me impedido de ir a ele — embora de fato tivesse achado difícil essa aproximação — em dor e arrependimento. Bendito seja Deus por sua graça insondável!

Veja mais sobre o texto de Hebreus 6:

Pecado deliberado (Hb 10:26-31)

Depois, considerei as palavras de Hebreus 10 e descobri: (1) que o pecado voluntário mencionado ali não é todo pecado voluntário, e sim aquele que rejeita Cristo e também os seus mandamentos; (2) que o juízo deste pecado deve ser feito abertamente, mediante duas ou três testemunhas, a fim de cumprir as exigências da Lei (Hb 10.28); (3) que este pecado não pode ser cometido sem contristar grandemente o Espírito da graça — menosprezando suas dissuasões quanto à prática deste pecado e suas persuasões no sentido de não cometê-lo. Mas o Senhor sabe que, apesar de meu pecado ter sido realmente vil, não chegou a este ponto.

Não achar arrependimento (Hb 12:15-17)

No tocante a Hebreus 12, que fala a respeito de Esaú vendendo seu direito de primogenitura, embora este fosse o trecho que me destruía e permanecia como uma lança que apontava diretamente para mim, eu agora considerava: (1) o pensamento de Esaú não era um pensamento precipitado que era contrário ao seu caráter. O pensamento de Esaú foi adotado e posto em prática voluntariamente, após muita deliberação (Gn 25.34); (2) foi um ato aberto, público, diante de seu irmão, se não ocorreu também na presença de muitos outros; isso fez seu pecado muito mais abominável; (3) ele continuou a menosprezar sua primogenitura; comeu e bebeu, e seguiu seu caminho; assim, Esaú desprezou seu direito de primogenitura. De fato, vinte anos depois, ele ainda o desprezou: “Então, disse Esaú: Eu tenho muitos bens, meu irmão; guarda o que tens” (Gn 33.9).

Agora, a respeito de Esaú ter buscado lugar de arrependimento, pensei, primeiramente, que não o fizera pela primogenitura, mas pela bênção. O apóstolo deixa isso claro, e o próprio Esaú o evidencia: “Tirou-me o direito de primogenitura”, ou seja, no passado, “e agora usurpa a bênção que era minha” (Gn 27.36). Em segundo lugar, tendo chegado a essa conclusão, voltei ao texto para ver qual seria o pensamento de Deus a respeito do pecado de Esaú, do ponto de vista do Novo Testamento. Até onde pude entender, este foi o pensamento de Deus: a primogenitura significava a regeneração e a bênção da

herança eterna, como o apostolo parece sugerir: “Nem haja algum… profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura” — como se tencionasse dizer que as pessoas que agem assim renegam todos aqueles benditos direitos que devem ser vistos como obra de Deus sobre elas, levando-as ao novo nascimento; para que não se tornem como Esaú e sejam rejeitadas posteriormente, ainda que desejem herdar a bênção. Pois há muitos que, no tempo da graça e misericórdia, desprezam essas coisas, que são, de fato, o direito de primogenitura que conduz ao céu. Mas, quando o dia decisivo chegar, eles clamarão como Esaú: “Senhor, abre-nos a porta!” Então, à semelhança de Isaque que não podia reverter a bênção, Deus Pai também não o fará. Ele dirá: “Eu os abençoei, e certamente eles serão abençoados”, entretanto, quanto a vocês: “Apartem-se de mim, todos os que praticam iniqüidades” (Lc 13.25-27).

Veja mais sobre o caso de Esaú:

Por: Vinícius Musselman Pimentel © 2014 Voltemos ao Evangelho. Original: Será que cometi o pecado imperdoável?

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