A religião envenena tudo como Christopher Hitchens disse? – D. A. Carson [O Deus Presente 12/14]

O falecido Christopher Hitchens escreveu um livro chamado “Deus não é grande”, alegando que a religião envenena tudo. Neste vídeo, D. A. Carson responde tal acusação, mostrando que a questão não é tanto a religião, mas a transcendentalização (um conceito que você precisa aprender e colocar no seu arsenal apologético).

Transcrição

Em um de seus livros mais recentes, o articulado e muito interessante ateu e crítico do cristianismo, Christopher Hitchens; “Deus não é grande – Como a religião envenena tudo”; argumenta que todo o registro de todas as religiões é direcionado para a guerra, o ódio e o conflito. Quer seja o conflito católico-protestante em Belfast nas últimas décadas, ou em Beirute, entre as heranças históricas cristã e muçulmana, ou Belgrado, ou Bagdá, ou Bombaim, por todo o mundo, a religião envenena tudo.

Preciso dizer que há alguma verdade na acusação. Não é por nada que há alguns séculos atrás, a guerra de 30 anos na Europa foi, em grande medida, uma guerra religiosa. A razão pela qual há alguma verdade na acusação, é porque uma das coisas que toda religião faz é transcendentalizar questões. Isto é, elas sobem as apostas, tornando as questões importantes.

Hoje, a maioria dominante de terroristas é do islã. E indubitavelmente eles gostariam de ver a cultura islâmica em vigor, e ter uma fatia maior da torta financeira e cultural, mais influência no mundo, etc., mas o que transcendentaliza suas crenças é sua convicção de que eles representam a mente do próprio Deus.

Veja, também foi demonstrado por Allister McGrath em seu livro sobre o ateísmo, que se você não tem a religião para transcendentalizar as coisas, você acaba transcendentalizando outra coisa. Em outras palavras, a transcendentalização não é meramente uma função da religião, mas uma função do desejo humano de controlar.

Então, no século 20, por exemplo, os grandes movimentos do Nazismo e do Stalinismo não eram movimentos religiosamente orientados. Às vezes, no Nazismo, os partidos afirmavam ter certo contexto cristão, mas, na verdade, o que orientava os dois movimentos, por um lado era a transcendentalização do Estado, e do outro lado era a transcendentalização da raça e da etnia, e da intrínseca superioridade germânica.

Então não é como se a religião envenenasse tudo, e todo o resto é bom. O século do maior derramamento de sangue, o século 20, foi um século no qual não foram movimentos religiosos que causaram tudo isso. Você não perde 1/3 da população do Camboja por causa do cristianismo, mas por causa do comunismo.

Onde se vê que o cristianismo bíblico é associado com a salvação pela graça, contudo, isso deve mudar tudo. Tim Keller, em Nova York, escreve: “A crença de que você é aceito por Deus por absoluta graça, é profundamente humilhante. Portanto, as pessoas que são fanáticas, não o são por serem muito comprometidas com o Evangelho, mas por não serem comprometidas o suficiente”. Se você recebe só uma pequena quantidade superficial de herança bíblica, evangélica ou cristã, e se convence de que é o melhor, e que todos devem ter o melhor também, não vai demorar muito para que se tenha novas Cruzadas. Em nome do cristianismo! Por outro lado, se você realmente bebe profundamente do que temos visto que a Bíblia se trata conforme trabalhamos por todo o texto, e finalmente vermos que nossa esperança está na graça, não porque somos mais fortes ou melhores; não somos nada mais que mendigos mostrando a outros mendigos onde conseguir pão; isso muda tudo.

É por isso que o cristianismo bíblico sempre teve em sua herança a capacidade de desafiar e reformar. É por isso que por mais indigestas e indefensáveis tenham sido as Cruzadas, é a herança cristã no ocidente que se desculpou por elas incontáveis vezes. Afinal, o islã conquistou primeiro o Oriente Médio com igual sanguinolência. E não há nenhum traço na herança do islã de nenhum pedido de desculpas por nada disso; aquilo era o que eles esperavam, porque não é construída na estrutura daquela herança um entendimento semelhante de que no final do dia, ficamos de pé ou caímos por causa da graça.

Por: Don Carson. Copyright The Gospel Coalition, Inc. Original: The God Who is There: Part 11. The God Who Declares the Guilty Just

Tradução: Alan Cristie. Revisão: Vinícius Musselman Pimentel. Ministério Fiel © Todos os direitos reservados. Original: A religião envenena tudo como Christopher Hitchens disse? – D. A. Carson [O Deus Presente 12/14]

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